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A sina, o caminho, ou simplesmente uma história. Um caminho igual a tantos outros, ou, uma história de vida, semelhante a tantas outras vidas. Uma história vivida, ou apenas fruto da minha imaginação.
Maria, tinha um anjo… Mas de momento ela nem se atrevia a pensar nele… Sabia que se cruzasse com ele, iria ver no seu rosto, a base da cor da bendita chávena de chá.
- Do nosso chá… pensava alto Maria…
O chá que simbolizava o sermão.. Mas desta vez, estaria desenhado a vapor a palavra culpada…
Pintado com a cor de quem reconhece que fez mal, e está a consumir o castigo que merece…
Sabia que quando se cruzasse com o seu anjo, ela não lhe iria apontar o dedo, como todos os outros. Mas também não precisava…
Bastava aquele sorriso de carinho e protecção acompanhado com o olhar que lhe diz por palavras mudas:
- Tu sabias meu amor, eu avisei-te! Tu sabias… Anda cá…. Senta aqui ao meu colo… Minha menina dos canudinhos…. Deixa lá…. Vives-te! Dói, doeu… Mas vives-te sentiste… Sorriste, amas-te e agora…. Agora sabes o que tens de fazer….Anda cá minha menina… Errar é humano… anda cá minha princesinha…
Então, com medo, que o seu incêndio fosse apagado, esvaindo-se o calor numa imensa pedra de gelo, Maria preferia nem pensar no seu anjo. Não a queria encontrar presente numa luz das curvas do seu pensamento… Da sua consciência pesada…
Doía-lhe sentir o peso da culpa… Remoía-lhe a consciência do que sabia ser o bem, e o mal… Mas o pior peso que Maria sentia, era quando “sentia” o seu anjo… O rasgo que sentia no coração era de tal forma forte, que fazia uma ferida…
Quando bebia da cumplicidade do sentimento que a avó iria fruir, quando fossem ambas confrontadas das suas acções…. Da sua atitude.. A dor que Maria sentia, era tremenda… Sentia o que a sua avó, agora anjo, pensava da mesma forma. Pensava como a outra parte de si, também pensava.. Também sentia… Pensava como se fosse ela… Era como se ela fosse a outra parte de si.. Aquela que também sabia que a sua acção, era censurável, mas perdoável… Porque nestas coisas da razão e do coração, nunca há amor sem perdão…Nem nunca há mal que não tenha solução…
Sabia que quando encontrasse o seu anjo, se iria sentir pressionada a tomar uma decisão… A decisão que mais lhe doía tomar… Sabia que ela a perdoava como sempre o fez. Mas também sabia que a iria obrigar a escolher o caminho certo. A seguir o caminho considerado certo, obrigando-a a ouvir a razão!
A avó da Maria, agora seu anjo, sempre tentou vestir o coração com a razão… Mas no fundo, no fundo, Maria sabia que ela a percebia, e que afinal, quando chegavam as duas à tal meta das confissões, o peso do coração era elevado ao da razão…
Maria sabia que ela sempre quis parecer mais racional, do que no fundo era.. Agora percebia que seria porque lhe queria mostrar o valor da razão. A sua dimensão, o valor que a consciência tem…, Queria transmitir-lhe isso para que depois a sua princesa pudesse optar conscientemente. Consciente e armada contra todas as frentes que iria enfrentar para ganhar a sua luta… Para poder decidir com a força da guerreira que ela sempre quis criar…
Mas, Maria sabia tudo isso.. E compreendi-a de uma forma inexplicável…Então, Vivia, sorria.. Vivia a ilusão daquilo que no fundo parte dela lhe dizia ser um engano, enquanto a outra parte a fazia sonhar alto…
No entanto, sabia ser inevitável ajustar contas com o seu anjo…
Agarrou-se à almofada e pediu para que o seu anjo lhe guardasse o sono.
De modo silencioso lhe alisasse, os canudos do cabelo, e por motivo nenhum lhe tocasse na ferida… Largou a almofada molhada com a lágrima que deixou fugir, e murmurou baixinho.
- Desculpa. Desculpa a tua menina, mas o amor, tem destas coisas.. Eu sei… Eu sei.. Eu sei.. Mas eu amo-o tanto.. É um amor especial….. Eu sei que tu também sabes isso.. Também sentes isso…
Perdoa-me e ajuda-me que amanhã vou pecar outra vez… Vou deixar a carne às ordens do coração, e vou alimentar o meu amor, com o corpo que amo, mas, mas tenho consciência, não ser meu…
Deixa-me sonhar meu anjo… Guarda-me o meu sono e orienta o meu coração pelo meu caminho de casa….
CLR
Parecia ter chegado o final do ano... Chuva, frio, nevoeiro…
À medida que se ia afastando na estrada, ia imaginando o sol, via-o timidamente a romper as nuvens, que também via estarem cheias de lágrimas. As suas lágrimas. A suas lágrimas a caírem do céu… Seguia caminho trepando a estrada. Como quem trepa uma montanha de ilusões. De sonhos… Remando com a ferocidade de quem precisa de sair dum remoinho… Nadando para se manter a flutuar… Pensando no que ficou para trás, no passado, no futuro e em como inesperadamente o céu por todo o lado se pôs negro. O clima tornou-se frio, e ela vai pensando nas coincidências da vida… Nas coincidências da natureza, e em como do céu em pleno mês de Agosto, caíram também lágrimas fortes, diria mesmo torrenciais, em alguns pontos dos pais…
O final de Agosto parece ter chegado mais cedo, chegara a Setembro sem esperar, ou seria ao Inverno, final do ano? Parecia Inverno, com chuva, lágrimas, e o céu não só mas também ele muito nublado…
Seguia a estrada e chegada à serra, apanhara nevoeiro… Olhava ao redor com espanto e não queria acreditar, nevoeiro em Agosto…. Mudanças, parece que chegamos ao final do ano... Mudanças no clima…
Ela, enfrentou-as como pode. Usou da força que não esperava ter e vestida com a capa que nunca teve de usar, foi enfrentando a tempestade no seu céu…
À luz do dia, e no meio do céu escuro, iluminada pela média luz fosca da estrela distante, uma luz de AMOR puro, forte e indomável, seguiu o seu caminho no meio de chuva que caiu do céu perdida, tal como ela se sentia… Perdida…
Chegada ao destino onde esperava se encontrar, no ar havia um estranho vento húmido que confundia o tempo, o modo e o lugar…
Sim foi ali. Tanto quanto é possível localizar, numa visão secreta da vida. Foi ali… Subiu ao seu quarto e naquele instante em que se viu confrontada frente a frente, com o passado recente e com a sua imagem no espelho, mas foi ali, ainda não desligada dela, que ela resolveu libertar-se em desabafo de choro…
Ali naquele momento, perante aquela imagem reflectida no espelho, ela ia tentar transferir para a outra parte de si, aquela sem memoria, ou de memoria apagada o seu passado recente… Aquela memoria branca que é por consequência incapaz da menor relação, passado, presente de si, com outro alguém ou do real com a visão que o abstracto contem… Ela… No espelho, desejava ver ela… E sonha que ela sem memoria, se esvai pelo presente, que simultaneamente deseja ver tanto passado como passado morto… Ela... Deseja soltar-se da existência anterior, e interior de mágoas … Porque sem referências do passado morrem os sentimentos, as ideias, os afectos e os laços sentimentais que a magoam… Razão pela qual ela se encontrava então perdida, e à procura do seu caminho para casa…
Aquele que tinha vindo a ser, um longo caminho para casa…
CLR
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