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A sina, o caminho, ou simplesmente uma história. Um caminho igual a tantos outros, ou, uma história de vida, semelhante a tantas outras vidas. Uma história vivida, ou apenas fruto da minha imaginação.

26
Mai19

45-COLLAGE

 
No céu, a noticia já era conhecida mas faltava partilhar a boa noticia pelas terras do seu vale encantado, no solo do seu retiro.
Retiro que remonta à época em que de Portugal nem o nome existia e o seu território, tal como hoje é constituído, fazia parte integrante da Península Ibérica.
Portugal não existia, mas este vale já existia, neste pequeno trato de terra surgido na Idade Média, o concelho de Tarouca.
Os Lusitanos, foram provavelmente os seus primeiros habitantes. Alguns historiadores consideram-nos já o resultado da fusão de Iberos e Celtas, cujas migrações se perdem nestas terras nas noites doutros tempos.
São testemunhas o castro de Mondim e de Castro Rei, onde nele foram encontrados vestígios dos Lusitanos, tais como casas, mós, objectos de cerâmica, machados de pedra polida.
Lamego foi um lugar onde os Romanos estabeleceram sólido domínio. Ora sendo tão perto de Tarouca e sendo suas terras tão férteis, é lógico que para aqui fossem atraídos, pois ainda hoje existem vestígios de estradas romanas.
Da permanência dos Árabes chegou até aos nossos dias a lenda do Penedo Encavalado, do Penedo da Meada e as que se referem à origem de povos, como Gouviães e Eira Queimada.
Em Tarouca Igreja Matriz de Tarouca, houve um castelo árabe que, em 1063, D. Fernando Magno, rei de Castela, veio submeter, depois de conquistar Lamego.
No onomástico do concelho há palavras árabes, como Almofala e Alcácima (Alcáçova), este ultimo é um morro onde existiu o castelo, na vila de Tarouca.
O Conde D. Henrique e seu filho Afonso I entregaram-no, com outras terras limítrofes, aos fidalgos, ricos homens e donos da sua côrte.
A Egas Moniz coube Salzedas (Algeriz) Gouviães; Tarouca, a Sancho Nunes; Dalvares, a Eldra Martins; e outras terras a Paio Cortez, D. Paio Viegas, Estevam Guilherme e Martins Passial.
Estes, com colonos do Minho, reconstruíram as povoações arrasadas em lutas de raça. Entretanto fundaram-se os dois mosteiros de S. João e Salzedas.
É provável que a fundação de Tarouca remonte ao último quartel do século XIII.
Mais tarde também se chamou Castro Rey. Com este nome recebeu foral de D. Afonso III a 11 de Dezembro de 1272. A antiga povoação de Tarouca foi quase sempre cabeça de concelho; mudado o seu nome, este não subsistiu por força da tradição. O primitivo concelho de Tarouca limitou-se quase só à freguesia da sede, com seus lugares; mas esta era muito extensa e contava muitas povoações.
Em 1898, o Concelho de Tarouca foi restaurado, tendo-lhe sido anexada a vila de Mondim com parte das suas antigas freguesias, ficando, até aos nossos dias composto de 10 freguesias:
Tarouca, Dalvares, Ucanha, Gouviães, Salzedas, Vila Chã da Beira, Granja Nova, Mondim da Beira, S. João de Tarouca e Varzea da Serra.
Sobreviveram a beleza das suas paisagens e numerosos vestígios do seu passado glorioso, tais como igrejas monumentais, seu valioso recheio em obras de arte, ruínas de ricos e importantes mosteiros, pontes medievais entre outros documentos históricos que atestam a sua importância através dos tempos desde antes da fundação da Nacionalidade.
Possuidora de todo este rico património, foi entregue na Assembleia da República uma proposta de subida à categoria de cidade. Posta a votação na Assembleia da República no dia 9 de Dezembro de 2004, foi aprovada pela maioria dos deputados passando assim à categoria de cidade. (Bibliografia: Monografia do Concelho de Tarouca do Ab. Vasco Moreira)
Tal vale encantado.
A verdade é que nem sempre é preciso atravessar oceanos para se deixar encantar.
Era a fuga preferida de Maria. Quando algo não estava bem, quando era preciso comemorar, era naquele vale que ela se ia refugiar.
Lá aproveitava o amanhecer, ainda sem demasiado calor para passear pelos caminhos perfumados com casas de pedra desenhadas em amplas janelas e varandas debruçadas sobre montanhas que crescem de vales silenciosos, imensa e deliciosamente vivos!
Onde tudo é vivo, tudo é calmo, tudo existe e é saboreado com complacência e parcimónia.
Os sabugueiros colhidos há pouco perfazem um rasgo de vermelho na correnteza das estradas.
O tempo soa nas horas do sinos das igrejas.
Algo alvoroça os cães da vizinhança. Um ténue nevoeiro impõe-se sobre o vale: parece um fumo parado que faz carecer de real os montes circundantes, numa mudez imóvel.
A Torre da Ucanha, a praia fluvial de Mondim da Beira, o Mosteiro Tarouca, o altivo mosteiro cisterciense de Salzedas, verdadeiras jóias do nosso património.
Respiram-se percursos que cambaleiam nas franjas dos tempos de uma vivência outrora, quais paredes sustentadas pela inércia e pelo conformismo de uma desilusão antiga.
Lembra-me um outro lugar, onde um ancião cego escondia recordações escritas nas fendas das paredes...
À saída do mosteiro e um pouco mais à frente, a judiaria, em ruínas mas de atmosfera recôndita, convida a um deambular que, apesar de curto, nos remete para uma época medieval, onde as construções se interligam através de invulgares passadiços desta aldeia vinhateira.
Sentem-se os passos da demora na escuridão da pedra, flutuando no espaço envelhecido, como que dores inúteis da decrepitude.
Luis e Maria, chegaram ainda antes do almoço. Podiam perfeitamente ter parado no caminho para comer numa qualquer estalagem à beira da estrada. Mas a ansiedade era tanta como a pressa de chegar.
Almoçaram e Maria lança a bomba como sobremesa.
Nos olhos do pai, Maria pôde ver um espelho de lagrimas de alegria.
- Então quer dizer que vou ser avô?
- A mãe deixou cair as palavras num silencio de um sorriso demasiado alegre para ser interrompido.
Aquele vale, nunca tinha sido sentido por Maria com tanto vento de alegria e felicidade.
Apreciaram um final de um dia estrondoso: uma leve sombra calma do anoitecer deu lugar a um céu negro profundo, longínquo e irrevogável.
À ceia, os reposteiros pesados e floridos convidaram à inércia e ao torpor, depois de um almoço em que se cozinhou e degustou o repasto regado a longas conversas até que a penumbra venceu o cansaço, e Maria se sem demoras, até sentir o amanhecer.
Domingo de manhã, sentada na beira da cama de soleira mas de casal, Maria ouvia o chilrear dos pássaros e o coro dos galos e gansos, que afincadamente entoa um cântico harmonioso.
Sessão interrompida pelo toque de telemóvel de Maria.
- Sim?
Sim sou. Mas como ? Probabilidade? Positivo?
Amanhã? Não não posso não estou em Lisboa, responde Maria.
Mas na ecografia estava tudo bem! O Dr Amadeu, disse que estava tudo muitíssimo bem!
Não, amanhã vou para Lisboa, mas vou trabalhar. Vou ao escritório deixar tudo preparado, e depois vou aí à clinica buscar o resultado, e depois logo marcamos.
Maria tentou levantar-se, mas as pernas não deixavam.
De repente, nada se mexia, apenas um ou outro insecto zumbia no remanso daquela paisagem que se transformou negra .
Molhada pelas lagrimas, arrasta-se até à porta e de cima das escadas vê o pai, a mãe, e Luis.
Desata num choro que não a deixa contar.
Maria, é acalmada pelo pai que lhe diz:
- Calma, isso não é assim. Não pode ser assim! Um não diz uma coisa e outro outra. Alguma coisa não está ai bem! Eu que nao percebo nada mas, calma….
- Maria retém o momento que lhe deu uma confiança inexplicável que alguma coisa não estava bem…
- O tempo escorre sem pressas, ante a partida irrevogável.
 
CLR

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publicado às 16:44


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