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A sina, o caminho, ou simplesmente uma história. Um caminho igual a tantos outros, ou, uma história de vida, semelhante a tantas outras vidas. Uma história vivida, ou apenas fruto da minha imaginação.
Ela...
O caminho, o percurso, a estrada, havia de ser sempre escolhido, sentido, desenhado por si.
Maria adorava desenhar, pintar, correr, escrever, sentir a natureza a praia, o campo, o rio, as flores, os cheiros tudo lhe deixava marcas, tudo lhe trazia lembranças, tudo fazia parte de si.
Pintar, era outro dos seus passatempos preferidos. Outro escape a juntar às corridas, ao exercício, à escrita, a pintura.
Quando não havia mais gavetas para arrumar, Maria desenhava e pegava numa tela, nuns pincéis e algumas tintas e escrevia na tela o que lhe ia na mente.
Arrumava as gavetas, dava uso aos ténis, coloria telas, escrevia blogs, e preenchia as folhas vazias do seu diário com o mapa do caminho por si sentido e percorrido.
Maria pensava que mesmo que nalgum dia se perdesse, por ter atravessado tantos caminhos cruzados, nunca se iria arrepender do seu passado.
Olhava para trás e via várias linhas, umas mais marcantes do que outras mas nenhuma havia sido insignificante. Todas tiveram o seu propósito. Todas elas importantes!
Maria já havia gostado bastante de futebol. Quando andava no secundário, um dos seus passatempos preferidos chegou a ser ir com algumas colegas ver os treinos de um dos grandes clubes da Segunda Circular. Por e simplesmente o Clube do seu anjo.
E como era lindo ver aquele casal de velhotes, amorosos, a transbordar felicidade e amor de mão dada nas bancadas, devidamente trajados à altura a assistir a um dos seus programas preferidos! Um jogo do seu SCP!
Só a imagem já cheira a amor. Casal mais unido, mais puro de maior cumplicidade, de tudo o que se pode imaginar e querer!
Olhar e ver aquilo é sentir, “só eu sei, porque queria muito encontrar aquele caminho para mim”, pensava Maria, a ver os avós de mãos dadas, completamente apaixonados, a trocarem mimos, nos seus passeios por Lisboa.
Maria sorria, quando ouvia a avó a cantarolar, de entre outras canções, a do hino do Sporting. O Clube que lhe enchia o coração de pulos, e lhe fazia subir a tensão, deixando-a ao rubro a assistir a qualquer partida, quanto mais quando do alto dos seus mais de 90 anos, ia com o seu amor, amado, amante, namorado, marido, amigo, companheiro da e para vida, namorar para o estádio do seu clube, não havia coração que aguentasse.
Nem o de Maria que se vertia em lágrimas de alegria e emoção ao vê-los...
Eram o exemplo mais querido! Aquele caminho que Maria queria encontrar e seguir!
Já estavam as estrelas no céu, e com esse pano de fundo, Maria decidiu aceitar por algumas vezes ir aos estádios, na tentativa de atingir aquele clímax que se habituara a assistir.
Numa das vezes foi a convite do Gabriel, bancada VIP, que Maria aceitou não por ser o seu Clube mas por ser o Clube dos seus anjos. Talvez assim o seu sonho tivesse mais perto de se realizar, pensou Maria.
Uma aventura bastante engraçada. Digamos que, nunca viu tanto VIP a cantarolar tanto palavrão em tão pouco metro quadrado!
Maria delirou e sorriu! Gabriel como sempre o cavalheiro, apenas preocupado com a luz do telemóvel de Maria que não se apagava nem por nada!
É melhor atenderes, sugere Gabriel, com um sorriso malandro, deixando escapar o comentário “Eu também ficava em stress se soubesse que a minha namorada se estava a divertir tanto, e com um sorriso tão bonito como está, e....se ela não me atendesse o telemóvel!
- Vá não sejas mauzinho, responde Maria!
Estou assim com um sorriso tão bonito?
- Queres mesmo que te responda? Pergunta Gabriel.
Aquela aventura tivera a sua graça, como todas as que passavam juntos.
Acabou com um jantar na Avenida da Liberdade, e uma série de gargalhadas, quando deixou Maria perto do seu carro e do arrumador enfurecido, que lhe riscava o carro.
Maria era mulher de luvas, e não deu duas gargalhadas, saiu do carro sem se despedir e vai direita ao alvo, deixando Gabriel completamente boquiaberto e desprevenido.
Valeu-lhes Garry e a fuga do arrumador perante a genica de Maria, completamente descontrolada de fúria.
Garry! Lá estava ele de novo!
Noutro dia, Maria visitou a catedral, com o seu querido Manu, vindo do reino dos Algarves, com direito a cachecol e tudo! Esse sim, teve direito a sonhar. Viu as estrelas a brilhar no céu.
Festejos, porque o glorioso também ganhou, cada vez que Maria ia ao estádio, o seu clube tanto o do coração, como o de empréstimo, ganhavam sempre!
Naquele dia até ganharam uma corridinha de fuga entre tamanha confusão de claques, policias, e mal feitores como os de Maria, Manu e os amigos deste!
Não fosse Maria corredora, não estivesse habituada a correr, não se cruzara com aquele sonho, de aroma forte e doce, que a seguiu até ao beco.
Maria encetou a fuga e segundos depois, sentiu que era perseguida. O seu coração saltava de medo, e na sua mente só pensava nas nódoas que iria ter, ou na visita da esquadra desta vez sem toga. O que lhe pairou na mente deu-lhe mais força para correr ainda mais, mas as forças estavam a esgotar-se e a multidão, transformou-se em ainda mais confusão.
De repente sentiu um puxão no braço que a arrastou para uma esquina de um prédio.
Maria primeiro, cerrou os olhos, depois, sentiu um aroma familiar, e num sussurro apertado num abraço sentiu e ouviu um tem calma, fica aqui amor. Fica aqui.
Maria mal o conseguiu reconhecer, com aquele fato, mas aquele cheiro, aquele aperto, aquele abraço, aquele beijo na testa e aquela voz... Era António! Maria não conseguiu dizer uma palavra.
Antonio levantou-se e ordenou aos camaradas, que seguissem em frente.
- Vieste sozinha? Perguntou António
- Não, responde Maria, ainda a tremer.
- Então e o parvalhão do gajo que te trouxe está onde? Pergunta Antonio
- Maria levanta o olhar e vê Manu à sua procura do outro lado da estrada, e acena com a cabeça.
- António, dirige-se a Manu chama-o.
Manu identifica-se, e António irritadíssimo ordena-lhe:
- Bem, leva-a daqui em segurança se fazes favor, achas que és capaz?
Maria ficou ali, sentada no chão ainda por um bocado, a sentir o corpo a tremer, até que Manu lhe dá a mão e a ajuda a levantar.
Acompanha-a até ao metro e onde duas linhas se cruzam, cada um seguiu o seu caminho.
Onde duas linhas se cruzaram... Cada um segue o seu caminho.
Maria segue de carro, até casa, sentindo que o clímax dos estádios tinha acabado!
O amor já existia!
Só precisava de encontrar o caminho até casa.
Cruzasse as linhas que cruzasse, caminhos que encontrasse, estradas que percorresse, o seu caminho era o mesmo!
E o sinal era o de que, estava sempre a cruzar-se com o caminho, o caminho de casa!
CLR
Maria tinha voltado a sonhar como seu anjo mas naquela noite, sentia aquele apoio duplamente maternal ao rubro.
- Não tens de te preocupar, só tens de seguir o teu coração, e cuidar de ti meu doce, cuidar de ti! Percebes o que te quero dizer? Faz o que te propõem, mas tudo de olhos abertos. Decide com a cabeça minha querida.
Maria acorda sobressaltada, com o coração a saltar-lhe do peito.
Aconchega a cabeça na almofada e agarra-a com tanta força, que sente estalar cada osso que tem nas mãos.
E num soluço de grito molhado, sente o aconchego do seu anjo na cabeça.
Aliviada Maria, sente que tomou a energia necessária para seguir em frente e enfrentar o que fosse preciso.
De repente toca o telemóvel, Maria.
- Estou amor, é só para te mandar mais um beijo, e já agora saber onde nos encontramos, pergunta-lhe Luis
- Não sei., responde-lhe Maria
- Já estou a caminho, apanho-te em tua casa, estou a conduzir tenho de desligar, beijo, até já, responde-lhe Luis apressadamente não porque estava a conduzir, mas porque temia que Maria mudasse de ideias.
Após bastante insistência, Maria tinha aceite que Luis a acompanhasse na consulta que tinha marcada com a médica.
Maria sentia o peso do apoio no braço que tinha pelos ombros.
No percurso até ao carro, de vez em quando, Luis, puxava Maria até si, e dava-lhe um beijo na cabeça, segredando, vai correr tudo bem vais ver. Não vai acontecer nada, vai correr tudo bem!
Entraram no carro e o silêncio permanecia. Só era interrompido pelo olhar que Luis lhe deitava aquando de cada paragem que teve de efectuar aos sinais vermelhos.
-Estás bem?, perguntava-lhe Luis, seguido de mais um abraço e um beijo.
Hein?
- Sim. disse Maria em voz sumida, esboçando um sorriso numa tristeza e medo muito mal disfarçadas.
- Tem calma, ela é uma excelente médica e foi Directora de Serviço do IPO, pelo que é muito competente, não achas? Não confias nela? pergunta-lhe Luis, numa tentativa de desbloqueio do silêncio de Maria.
Fala comigo amor ! Maria, estás bem? insiste Luis, enquanto estaciona o carro.
- Sim, responde Maria.
Quero pedir-te uma coisa, solicita-lhe Maria
Se não te importas, eu subo sozinha, porque estou a precisar de dormir, e ficar sozinha comigo e com o meu pensamento.
- Não, Maria. Eu prometo que não te digo mais nada. Faço-te o jantar, levo-te o Rex à rua e fico no meu cantinho. Jantas sozinha no quarto se quiseres, e se quiseres até posso dormir na cama do Rex. Agora não me peças para te deixar sozinha hoje, por favor.
Eu escondo-me na dispensa, ok? Responde-lhe Luis em tom demasiado agudo e convicto.
CLR
Saltou da cama ainda não eram sete da manhã.
Veste o top, os calções e os ténis, e lá vai ela, para o seu treino matinal.
Maria, olha pelo retrovisor e avista o caminho que deixou para trás num sorriso de uma grande amizade. Uma amizade muito especial.
Dirigiu novamente o seu olhar para a frente, e deixou-se enfeitiçar pela cor do carro preto que seguia à sua frente… Cor, Marca, Modelo igual ao de Michael…
As estrelas ainda não se tinham recuperado do que viam, já presenciavam a comparência de novo ser…
Um ser que lhe ocupara amigavelmente o coração e a vida ha quase uma mão cheia de anos…
Levou a mão ao rosto, esticou os dedos que lhe limparam as gotas do mar, que sentia escorrer dos olhos…
As nuvens estavam curvas aos seus olhos, desenhando um ponto de interrogação…
No canto escorria uma lágrima do texto já escrito, por quem sabe o que se vai passar…
Deixar uma vida para nada… Lutar por nada… Apostar na solidão…
Sim era assim que ela no fundo imaginava ter sido o resultado da sua ultima opção.
Na rua, numa poça de água, espelha-se uma imagem num misto de medo, alegria e tristeza…
Maria, sabia… Pressentia, que nem tudo lhe tinha sido contado. Ela sabia…
Estaciona o carro junto à falésia.
Resolveu sair do carro, só para melhor sentir a brisa..
No chão, vê uma rosa, a mesma que tinha trazido consigo, há mais de um mês atrás…
Aquela de que tinha esperança…
Curva o esqueleto e segura-a com firmeza. No dedo fica travado um espinho. Ela leva o dedo junto dos lábios, toca no espinho e dá-lhe um beijo, sussurrando amo-te…
- Amo-te… Meu amor, Amo-te!
Foram mais de 10 quilómetros que limparam todas as mágoas, libertaram o sorriso e soltaram palavras ainda que solitariamente ouvidas.
CLR
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